O Renascimento integrou-se na vasta cadeia de transformações que assinala a transição do período Medieval para os tempos Modernos - na Europa Ocidental - na medida em que temos o Renascimento comercial; o crescimento das cidades e sua urbanização; a centralização do poder político nas mãos do rei; o crescimento e a ascensão da burguesia.
Sendo assim, o Renascimento teve origem na Idade Média, século XVI, na Itália, atingiu a plenitude entre os séculos XV e XVI, entrando em decadência em meados do século XVII.
O movimento renascentista teve inicio na Itália, devido ao florescimento do comércio em fins da Idade Média, que beneficiou especialmente as cidades italianas, mas por sua vez esse "renascimento comercial" provocou enorme surto econômico que veio a ser base do "renascer intelectual", que se verifica nos séculos XV e XVI, onde temos o período mais fértil em produtividade de obras e autores do Renascimento. Renascimento é um termo inexato, uma vez que pressupõe a morte da cultura no período medieval, o que não ocorreu, nem mesmo em relação à cultura clássica, pois nas escolas das catedrais e nos mosteiros estudavam-se os autores latinos e os gregos.
O que temos é que no século XIV houve uma revivificação dos estudos greco-romanos, em todos os sentidos, levados a efeito pelos humanistas, que opunham a tradição clássica ao universo medieval - repúdio aos ideais medievais - filosofia escolástica, negligência do espírito crítico, supremacia das interpretações teocêntricas, etc. Assim, os humanistas preparam a Renascença ao adotarem uma nova concepção do homem e do mundo - antropocentrismo, em oposição ao teocentrismo. Agora o homem passava a encarar-se como "medida comum de todas as coisas", procurando um novo estilo de vida - classicismo - abandonando o cotidiano estreito e mesquinho do ambiente medieval.
Todavia, os humanistas da Renascença equivocaram-se ao considerar sua época totalmente desvinculada dos valores medievais, uma vez que a civilização da Renascença tem suas raízes nas transformações de todas as ordens, que se processavam na Baixa Idade Média. Mesmo a influência bizantina e sarracena, comum ao movimento renascentista, é fruto de uma cultura elaborada no período medieval.
Abaixo estão relacionados os precursores do Renascimento:
- Dante Alighieri (1265-1321), autor de "Divina Comédia, marco da criação da literatura moderna, escrita em dialeto toscano, que substituiu o latim nas escrituras italianas. Fez críticas ao comportamento eclesiástico, cita autores da Antiguidade clássica, mas ainda possui inúmeras características da mentalidade e da expressão medieval. Para Dante, o homem "é um homem de dois mundos, pois ao mesmo tempo em que resume a civilização medieval, sintetiza todas as perplexidades que assinalarão e dignificarão o homem moderno."
- Giotto (1276-1236), com ele a pintura rompeu o imobilismo da tradicional pintura medieval e alcançou a posição de arte independente da arquitetura, humanizando suas figuras e dando-lhe características individuais e naturalistas. Ele procura destacar o volume de suas imagens em toda a grandeza de sua tridimensionalidade, dando-lhe efeito de profundidade em suas composições. Cria
uma nova concepção do espaço em profundidade, ou em perspectiva - "ver através". Dentre suas obras, destaca-se: "São Francisco pregando aos pássaros" e "Cenas da vida de Cristo".
- Petrarca (1304-1374), criador da poesia lírica moderna, denominado pai da literatura renascentista italiana. No entanto, no seu poema "Odes a Laura", há resquícios de religiosidade medieval e seus sonetos estão impregnados de traços das poesias amorosas produzidas pelos trovadores das canções dos cavaleiros medievais; na obra épica "De África", ele inspirou-se nos clássicos greco-latinos.
- Boccaccio (1313-1375), criador da narrativa em prosa artística dos novos tempos. Sua obra "Decameron" conta de cem contos curtos, narrados por um grupo de jovens, enquanto fugiam de Florença, assolada pela peste de 1348. Esse conjunto de contos expressa a crise de valores da sua época, evidenciando o anticlericalismo e a utilização do elemento erótico e picaresco.
Também se deve a outros vários fatores, entre eles:
- maior influência da cultura bizantina e sarracena;
- tradição clássica, contando com grandes quantidades de obras clássicas em território italiano, especialmente em Roma, isto mantinha nos italianos a crença de que eram descendentes dos antigos romanos;
- Universidades voltadas para o estudo do Direito e Medicina, sem interferências eclesiásticas;
- a riqueza das cidades italianas, que monopolizavam o comércio mediterrâneo;
- O incentivo dos "Mecenas" (protetores das artes e dos literatos de uma maneira geral), normalmente ricos comerciantes (burguesia mercantil), que ocupavam posições de destaque nas repúblicas italianas, ou elementos do Clero (papas, especialmente). Destaca-se, entre outros, Lourenço de Medici (Florença), Francesco Sforza (Milão), os Estes (Ferrara) e os papas Nicolau V, Pio II, Júlio II
e principalmente Leão X. A influência dos mecenas foi imensa e de inestimável valor à projeção cultural do Renascimento, o que evidencia o caráter estilista deste movimento.
Para Nicolau Sevcenko: "É por trás desse panorama tempestuoso que se desenvolve a cultura renascentista, voltada para os princípios do equilíbrio, da harmonia, do naturalismo, da economia, do espaço, da forma e da luz; para a racionalidade e a homogeneidade, enfim. Nesse período de caos e opressão, seu compromisso era com a ordem e a liberdade do espírito humano. (...)
Quem a alimentava era a prosperidade mercantil, daí ela estar comprometida com a atitude racional, projetiva, econômica, organizadora, mas também agressiva, conquistadora, sequiosa de independência, de espaço, de saber e de distinção."
O Renascimento italiano é dividido em três fases, cada uma correspondendo a um período de um século:
O Trecento, também denominado de período "Pré-renascimento", fase inicial da cultura Renascentista, destacando-se na literatura, Dante Alighieri, Petrarca e Boccaccio e na pintura, Cimabue, Duccio e Giotto. Essa fase é marcada ainda por fortes elementos medievais, com os pintores, principalmente Giotto, teremos um novo estilo de composição: abandona-se o hieratismo e a rigidez do estilo bizantino e explora-se a mobilidade, cromatismo e a espacialidade do estilo gótico.
O Quattrocento é a época das grandes realizações do Renascimento, nele Florença tem a hegemonia incontestável da cultura renascentista italiana e européia.
Introdução na Itália da pintura a óleo, permitindo progressos artísticos. Destacaram-se Masaccio, Sandro Botticelli, Leonardo da Vinci, Ticiano e Tintoretto.
- Masaccio, influenciou a pintura a romper com resquícios da arte medieval. Quadros: "A expulsão de Adão e Eva do paraíso" e "Tributo".
- Sandro Botticeelli, conciliou o paganismo clássico com o cristianismo. Quadros: "Nascimento de Vênus" e "Alegoria da Primavera".
- Leonardo da Vinci, humanista convicto, gênio renascentista, uma vez que foi pintor, escultor, músico, arquiteto, matemático, filósofo e inventor. Quadros: "Monalisa" (Gioconda), "Virgem dos Rochedos" e "Última Ceia".
- Ticiano, foi exclusivamente pintor de admirável fecundidade, pintou temas religiosos, mitológicos e foi um dos maiores retratistas do Renascimento. Quadros: "Medea e Vênus", "Vênus e o Cupido e "Descida da Cruz".
O Cinquecento, período em que as obras artísticas atingiram seu mais elevado grau de elaboração. Porém, como estamos no século XVI, as cidades italianas enfrentam dificuldades econômicas em virtude da expansão marítima e comercial, realizada por Portugal e Espanha, provocando a troca do eixo econômico do Mediterrâneo pelo Atlântico, rompendo o monopólio comercial das especiarias turco-italianas.
Fase em que a língua italiana, já sistematizada, adquiriu a mesma importância que o grego e o latim, tivemos destaque das obras literárias dos autores:
- Torquato Tasso, autor de "Jerusalém Libertada"
- Ludovico Ariosto, autor de "Orlando Furioso"
- Nicolau Maquiavel, o autor mais polêmico deste período, entre suas obras estão:
"Mandrágora" (peça de teatro), "Discurso sobre a década de Tito Lívio" (história) e "O Príncipe", em que temos a base teórica da organização política do Estado Moderno, onde o autor faz a pregação de um Estado unificado, com poder político forte e centralizado, liberto da tutela da Igreja.
Neste período, o Cinquecento, a arte renascentista, ao mesmo tempo que atingia seu apogeu, começava a mostrar sinais de decadência, agora a capital cultural era Roma, destacando-se Rafael de Sanzio e Miguel Angelo (Michelangelo).
- Rafael de Sanzio, sua pintura é algo mais suave, mais simples. A forma e a cor são importantes em si mesmas. Quadros: "Escola de Atenas" e "Madona Sistina".
- Miguel Angelo, foi o maior pintor e escultor desse período. Na pintura destaque para os afrescos da Capela Sistina, temas cristãos, onde as figuras possuem extraordinária beleza e opulência, destacando-se "O Juízo Final" e a "Criação de Adão". Na escultura, temos: "Escravo Acorrentado", "Moisés", "Davi" e "Pietá".
A partir da metade do século XVI, o Renascimento entrou em decadência na Itália, pois a expansão marítima e comercial (grandes navegações) fez com que o centro econômico europeu fosse transferido para o Atlântico, arruinando o monopólio econômico dos turco-italianos no Mediterrâneo. Outro fator decisivo foi o advento da Contra-Reforma, que indispunha contra as manifestações culturais renascentistas.